“Escolha, portanto, a vida”. Todo apoio à D. Frei Luiz Cappio

“Escolha, portanto, a vida”.
Deuteronômio, 30,19b

O Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas vem a público demonstrar solidariedade com a decisão de D. Frei Luiz Cappio. Conhecendo D. Frei Luiz de longa data, da história do seu compromisso com o rio e com os povos que o habitam, uma vida que se confunde com uma longa peregrinação a nos alertar dos riscos de uma sociedade de consumo sem limites, entendemos esta sua atitude como uma atitude a favor da Vida. As sociedades brasileira e planetária estão passando por um momento crítico. Este modelo de sociedade estruturado na lógica de reprodução do capital em escala mundial extrapolou a capacidade de suporte do planeta em manter o equilíbrio de seus sistemas vitais. Entendemos o alerta de D. Frei Luiz como um aviso de que precisamos primeiro cuidar das fontes que sustentam a vida, as fontes que sustentam o rio, sob o risco de não termos o que cuidar mais. As fontes estão secando. Nós bem o sabemos daqui do Norte de Minas, daqui de Montes Claros. Não são apenas os esgotos: a lógica da ocupação dos Cerrados e da Caatinga, a expansão das grandes monoculturas de eucalipto, soja, cana, café e pastagens, os grandes projetos de irrigação (entre estes o Projeto Jaíba e Projeto Gurutuba) sustentando uma agricultura que não se sustenta, a construção de grandes barragens, vão se somando com a concentração das terras, com a sistemática negação e invisibilização dos povos e comunidades tradicionais que as habitam, com a destruição da biodiversidade e agrobiodiversidade manejada por estas mesmas populações.
D. Frei Luiz Cappio sabe que existem possibilidades de uma vida de convivência com os Cerrados, com a Caatinga, com o Semi-árido. Possibilidades que não necessitam de grandes obras, mas de obras e ações descentralizadas: que tratem do esgoto, mas que também diminuam os seus efluentes; que recuperem a mata ciliar, mas também diminuam as monoculturas nas áreas de chapadas e tabuleiros.
Somos uma nação. E uma nação só se constitui em torno de consensos. E o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco está longe de ser um consenso nacional. Acreditamos no bom senso de diversos setores do Governo Lula. E já que o Rio São Francisco é o Rio da Integração Nacional e em nome desta integração nacional, unamos nossas forças, buscando o arquivamento deste projeto e a construção de um projeto de convivência com o semi-árido, de revitalização e manejo sustentável da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, baseado nas diversas iniciativas desenvolvidas por diversas organizações do Semi-árido brasileiro, pelos Povos e Comunidades Tradicionais que habitam esta região do Brasil.
Acima de tudo, acreditamos que o que importa é a Vida!


CENTRO DE AGRICULTURA ALTERNATIVA DO NORTE DE MINAS – CAA-NM


Montes Claros(MG), 28 de novembro de 2007

Nas Imensidões dos Geraes

No Geraes é assim: de início, parece tudo igual. A paisagem é ampla, montanhas, quando se vê, estão esmaecidas ao longe. No auge da seca o verde salpica aqui e acolá; nas águas flores, cheiro de terra molhada, rastros variados nas terras úmidas. No Gerais é assim, quando o olhar se acostuma, quase nunca é o mesmo, ainda que sua rota passe repetidas vezes pelo mesmo lugar, não é o que se viu, assim como se vê, hoje, amanhã já é diferente, então os caminhos começam a variar, elevações se aproximam, as trilhas lineares se encurvam como os retorcidos dos troncos, dos galhos, é então que se ouve vozes, passaros, cães, crianças, mugido de gado em meio à vegetação que balança ao vento ... Áreas de matas sucedem os campos, as caatingas, as chapadas, os tabuleiros, as veredas, os espigões. Rastros de veado, onça, joão-de-barro, juriti, sandalias, botinas, calvagaduras ...

No Geraes é assim: quase nunca do mesmo jeito, assim aprendemos com os seus moradores.