Lentamente Alvimar se foi. E (se
foi) no silêncio, de mansinho, na humildade que desde sempre marcou sua vida.
Para muitos, para muitas, deixou uma palavra. Preparou sua esposa, seus filhos,
sua família, seus amigos.
Alvimar Ribeiro dos Santos, desde
sempre, preocupava-se com as pessoas, com a organização. Onde existia opressão
ele estava para denunciar e lutar junto. Em vida, foram muitas, as pessoas e as
organizações que o convocaram, quantas e quantas vezes? Que o convocaram para
pedir sua opinião, para se aconselhar sobre as lutas que travavam pelo direito,
pela vida, pelas águas, pela terra, pelo cerrado, pelos territórios.
Alvimar de luta, sempre presente
em todos os momentos e, principalmente, naqueles mais difíceis. Se quiséssemos,
em pouco tempo colheríamos centenas e centenas de depoimentos, depoimentos que
são o livro de sua vida. Nunca escreveu um livro, mas foram muitos os doutores,
as doutoras, as mestres, os mestres que foram os seus alunos, que sobre ele
escreveram, que para ele escreveram. Era com humildade e determinação, muita
determinação, que orientava as pessoas, as comunidades, as organizações para a
vida, para a luta, pois o seu lema era o “bem-viver”.
Alvimar de luta, o conhecemos
desde sempre na comunidade, na paróquia, no sindicato, na CUT, na CPT, na
Comissão Regional de Desenvolvimento Sustentável do Norte de Minas. Do CAA, foi
um dos seus primeiros construtores, assim como foi do Norte de Minas de luta,
das Minas Gerais de luta. Dos operários, dos posseiros, dos lavradores, dos sem
terra, dos agricultores familiares e dos assentados de reforma agrária, das
comunidades tradicionais, dos índios e dos quilombolas. Alvimar de luta dos
camponeses, dos trabalhadores do campo e da cidade.
Quantas e quantas pessoas ele já abençoou
em suas passagens pelo sertão? Quantos
latifundiários, grileiros, ele enfrentou juntos e na defesa dos camponeses?
Quantas empresas, reflorestadoras, mineradoras, promotoras do trabalho escravo,
da degradação humana e ambiental ele enfrentou? Quantos e quantos assassinatos ele evitou?
Quantas e quantas denúncias saíram de suas mãos, denunciando a degradação, a
destruição, a omissão do estado subserviente aos interesses das elites
conservadoras do país? Quantos assassinatos ele presenciou? Quantos cadáveres
ele desenterrou para que a justiça se fizesse, sempre e sempre na defesa do
irmão?
Alvimar de luta, era com
humildade que chegava a todos os lugares. Nos últimos anos ele envolveu a fundo
na unificação das lutas camponesas, dos povos das águas e dos cerrados, camponeses todos, para enfrentar o grande
desafio imposto pelo capitalismo. Seus amigos não são amigos de poucos dias.
Ele os cultivava em casa, dentro de sua casa, com os vizinhos. Ele os cultivava
nos sindicatos, nas comunidades, nas pastorais, nas organizações de base, nos
movimentos sociais. Nunca buscou honrarias, nunca buscava o reconhecimento. Mas
a sua família, os seus amigos, o seu bairro, sua paróquia, a cidade, O SERTÃO
O RECONHECE!
Alvimar de luta foi condecorado
pelo sertão, condecorado com a honraria da coragem.
Alvimar de luta, nos preparou
para a vida, para a esperança, pela fé. Preparou-nos para a sua despedida ao
encontro com CRISTO. E para este encontro ele foi de mansinho, no silêncio da
noite, da madrugada, do dia chegando. Não queria choro, mas não tem como as
lágrimas não escorrerem regando o legado que deixou aqui na terra juntamente
com sua esposa, D. Lúcia, com os seus irmãos, com os seus filhos e filha, netos
e netas. Legado que frutifica em todas as comunidades por onde passou, em todos
os sindicatos, em todas as pastorais.
Alvimar de luta deixou o CAA como
legado, que as comunidades do CAA muito agradecem. A vida, a terra, as águas, os
cerrados e os seus povos agradecem. Que continue a nos abençoar nesta nova
caminhada nos céus do Senhor!
Montes Claros, 19 de
agosto de 2016
Centro de Agricultura Alternativa
do Norte de Minas
Articulação Rosalino de Povos e
Comunidades Tradicionais
Cooperativa Grande Sertão
Instituto Guará – Agroecologia,
Educação, Pesquisa & Desenvolvimento