Conheço o João Roberto Ripper desde quando ele veio ao Norte
de Minas no início dos anos 2000 fazer um registro de trabalho escravo em
carvoarias. Acompanhei suas andanças no Quilombo do Gurutuba e na região do
Alto Rio Pardo. O registro que ele fez teve repercussão internacional, foi
parar na OIT que cobrou medidas contra o trabalho escravo no Brasil.
Dois de seus comentários quando andávamos em um "fiatizinho", que desde sempre o acompanha, era de que onde andava fazendo registro sempre
buscava retornar, pois ia construindo compromissos com as pessoas do lugar. E o
outro era que sempre deixava os arquivos de seus registros com as comunidades e
com as organizações que ali atuavam.
Pois é o que sempre fez em suas andanças pelos sertões do
Norte de Minas e nas altas serras da região de Diamantina. Só que sempre fez
muito mais. Capacitou-nos, capacitou jovens e adultos na arte da fotografia e
da documentação. Em cada lugar que passou vc hoje pode ir lá procurar, ou em
meio digital ou em meio de papel, vc encontra os registros que ele deixa
disponível para ser usado, sempre de rara sensibilidade. Ele vem cumprindo um papel fundamental na formação de comunicadores populares por onde passa.
Agora ele está com um projeto muito mais ousado: organizar e
disponibilizar seu vasto acervo, de décadas de trabalho no Brasil, para uso das
organizações dos povos e comunidades tradicionais, de seus movimentos, das
entidades que as apoiam e de grupos de pesquisa.
Vamos apoiar divulgando e contribuindo!!!!
Visite o link acima, está lá escrito assim na introdução:
Com quase 50 anos de documentação, João Roberto Ripper dedicou sua vida a contar as histórias abafadas ou esquecidas do país. As histórias de injustiças contra crianças e adultos em situação de escravidão; as histórias sobre as dificuldades da seca no semi-árido; mas também as histórias de força das lutas dos movimentos sociais e populações tradicionais pelo Brasil. Nosso objetivo com esta campanha é, em seis meses, trabalhar todo o material nativo digital, isto é, as fotografias produzidas por Ripper após sua transição da fotografia analógica para a digital, organizado e catalogado, com cada uma de suas imagens preenchidas por informações e contexto, contando a história por trás de cada uma das imagens. Este material será então doado para a Fundação Biblioteca Nacional para conservação a longo prazo e será disponibilizado para o público para consulta e pesquisa no site do fotógrafo. Cópias deste acervo também serão enviadas para entidades e instituições documentadas para auxiliar em suas lutas e reforçar suas políticas de memória.
São cerca de 20 terabytes de arquivo, que cobrem os últimos 15 anos de sua carreira, ainda em andamento. Este projeto é parte de um projeto maior, que inclui todo o acervo de quase 50 anos de Ripper, que contabiliza em mais de 140 mil fotogramas em filme e dezenas de cadernos de campo. Este é nosso primeiro passo na direção de assegurar essa parte importante da memória do Brasil conservada e acessível a todos e todas.