Enquanto o toré
saudava os participantes do VII Encontro dos Povos do Cerrado e as toras
adentravam no adro do Congresso Nacional, enquanto os tambores dos batuques
entoavam as canções de liberdade dos negros no Museu do Índio em Brasília, as
comunidades extrativistas do Norte de Minas Gerais que foram a Brasília trazer
o decreto de criação da RDS Nascentes dos Gerais (Ex RESEX Areião Vale do Guará)
ainda tinham esperanças que a Presidenta Dilma anunciaria esta boa nova.
Afinal, menos de um mês antes a presidenta estivera em Rio Pardo de Minas e na
oportunidade eles entregaram mais um abaixo assinado pedindo urgência na
criação da RDS. E, no dia 30 de agosto de 2012 enviaram o vídeo documentário
ROMARIA DO AREIÃO (http://ufftube.uff.br/video/X5857XUON848/Romaria-do-Arei%C3%A3o)
à presidenta. Um vídeo que retrata a
dura batalha de comunidades esquecidas que vivem nas altas serras e topos de
morro da Serra do Espinhaço e que lutam pela proteção do seu território
tradicional.
Foram informados que
o Decreto de Criação da RDS já tinha passado por todos os trâmites e
encontrava-se na mesa da Casa Civil à uma espera de decisão da presidenta. Ficaram
sabendo então que o Ministério das Minas e Energia estava fazendo pressão para
a não criação da RDS, fazendo coro aos interesses minerários do Governo do
Estado de Minas Gerais.
Dissuadidos a não
fazerem uma ação direta no Palácio do Planalto, o que os extrativistas do
cerrado assistiram foi a embromação da Ministra do Meio Ambiente, Izabella
Teixeira, na audiência que concedeu no dia 13 de setembro às lideranças das
organizações que atuam nos cerrados. Fazendo um grande jogo de cena, a Ministra
afirmou desconhecer os andamentos dos processos de criação de RESEX e RDS nos
Cerrados (ofícios, cartas, videodocumentários foram encaminhados para ela com a
devida antecedência). Com uma eloqüência inaudita, prometeu recursos e ações
para a proteção dos cerrados. Mas ignorou a necessidade urgente das comunidades que lutam pela legalização,
titulação e demarcação das áreas indígenas e quilombolas, assim como os
territórios de populações extrativistas.
Com promessas de verbas para as ONGs, com promessas de criação de ilhas de proteção nos
cerrados bem ao gosto de ambientalistas que reivindicam unidades
de proteção integral; áreas para que a elite brasiliense possa se deliciar nas ricas
pousadas de fim de semana, ou que seus filhos possam tomar banho nas águas límpidas
que nascem nos cerrados, antes que sejam emporcalhadas pelos agrotóxicos, esgotos
e aterradas pelas terras contaminadas oriundas das grandes monoculturas e
crateras minerárias.
O VII Encontro dos
Povos do Cerrado chega ao fim e a tortura que as comunidades extrativistas
enfrentam há 11 anos em sua luta pela proteção dos cerrados e de seus
territórios vai continuar. A presidenta Dilma, que conheceu os porões da ditadura
e viveu na carne este crime hediondo, tem o poder de tomar uma decisão que vai
contra os interesses da mineração e do governo do estado de Minas Gerais. A
continuidade da tortura que sofre as comunidades extrativistas está nas mãos da
presidenta.
Estes interesses estão
muito bem articulados. Enquanto os guardiões do Areião encontravam-se em Brasília
no VII Encontro dos Povos do Cerrado, um fogo criminoso foi ateado dentro da
área reivindicada para criação da RDS Nascentes dos Gerais.
Mas, a vinda a
Brasília foi muito importante para todos extrativistas dos cerrados. Afinal
descobriram que é daqui, do Planalto, que sai a ordem de operação das máquinas de
destruição que eles enfrentam com o próprio corpo nas altas chapadas da Serra
do Espinhaço, no extremo norte de Minas Gerais. Máquinas que sobem a serra e
vão assassinando, em lenta agonia, os povos que aprenderam a conviver com os
cerrados brasileiros. E tão bem retratada no Vídeo: ROMARIA DO AREIÃO!
Estão retornando para
Minas Gerais, mas aprenderam que a frente principal de luta está aqui no
Planalto Central.
Pelo imediato decreto de criação da RDS Nascentes dos Gerais (Ex RESEX
Areião Vale do Guará)!
Pelo imediato encaminhamento de criação de outras 19 RESEXs nos Cerrados
Brasileiros!
Pelo imediato reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas dos
Cerrados Brasileiros!
Pelo imediato reconhecimento e demarcação dos territórios quilombolas
dos Cerrados Brasileiros!
Pela proteção do Xingú e imediata suspensão da Barragem de Belo Monte!
Não ao genocídio que enfrentam os povos e comunidades tradicionais dos
Cerrados Brasileiros!
Não ao genocídio dos Povos Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul
Brasília, 15 de Setembro de 2012
Um comentário:
Continuar a caminhada é imprescindível para se chegar ao final.O que buscamos é o caminho. A verdade é dos justos. O caminho a ser buscado portanto é o dos justos.
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