O sono não vem. As seguidas
lembranças de D. Dochinha me vêm à mente enquanto ela debate, confabula: estes seus
momentos de vida podem ser os últimos . . . Podem?, falamos assim porque ela
sempre nos surpreendeu. É impossível dizer quantas vezes. Pouco sei de suas histórias
quando morava ainda em Jequitaí, em Várzea da Palma, quando mudou para Sete
Lagoas. Sei que aqui, nesta cidade, que ela declarava ser a melhor do mundo, fui
o primeiro a nascer, isso em 1953. Quando veio para cá, já tinha sete filhos.
Fui o oitavo. Ainda nasceram outros três. Mas sei que a iniciativa de vir para
Sete Lagoas teve o dedo de Dochinha, saindo de uma pequena fazenda em Várzea da
Palma, onde foram morar após o incêndio de um comércio que possuíam naquela
cidade.
Em Sete Lagoas, por
muitas vezes surgiu à frente de diversas iniciativas, sempre ao lado do Sr.
Geraldo, nosso pai. Surpreendeu-nos por diversas vezes. Recebendo jovens das
cidades vizinhas que procuravam a cidade para aqui estudar. Quantos de nós não
crescemos com a casa sempre cheia, nos pensionatos que complementavam a renda
familiar? Assim íamos sendo educados, em meio às pessoas que agregava em sua
volta. As últimas iniciativas, posso falar com muita certeza: ao ficar viúva não concordou que A NOSSA CASA fechasse as portas sem antes quitar as dívidas
que se avolumaram frente aos tributos da receita, cujo pagamento foi falseado
pelo então contador.
Surpreendeu novamente, quando finalmente conseguiu repassar a loja já devidamente reparada. Convidada a ir morar com as filhas, optou por um outro caminho. Pegou suas trouxas e foi para Belo Horizonte: alugou um pequeno apartamento, entrou para o folcolares, fez curso de yoga, de alimentação natural, onde também dava pensão. Quando sentiu que estava preparada, resolveu voltar para Sete Lagoas e, de forma surpreendente, dá inicio a uma oficina de Yoga direcionada a idosos. Juntamente com um restaurante natural. Nesta época não se falava de idosos, eram simplesmente velhos! ... velhas!
Refaz, em uma jornada a partir do final dos anos 1970, uma longa luta contra o preconceito vivenciado pelos idosos e idosas, a favor da terceira idade. É quando funda o Grupo Convivência. E o faz congregando idosas que viviam na periferia da cidade. Eu, que cresci vendo-a trabalhando com a infância abandonada - quantas vezes ela nos levava até aos orfanatos para brincar com os meninos neles recolhidos? quantas vezes fomos até a periferia levando presentes, cestas básicas, material de construção, para famílias que viviam na extrema pobreza? - desde longe a via ingressando em outra frente, levantando outras bandeiras, agora contra o preconceito e a exclusão dos idosos, uma luta pelo seu reconhecimento iniciada ainda no final dos anos 1970. Ela nos surpreendeu chamando a todos e todas para o cuidado com a saúde, com a alimentação, com a necessidade de se preparar para este momento precioso da vida.
Surpreendeu novamente, quando finalmente conseguiu repassar a loja já devidamente reparada. Convidada a ir morar com as filhas, optou por um outro caminho. Pegou suas trouxas e foi para Belo Horizonte: alugou um pequeno apartamento, entrou para o folcolares, fez curso de yoga, de alimentação natural, onde também dava pensão. Quando sentiu que estava preparada, resolveu voltar para Sete Lagoas e, de forma surpreendente, dá inicio a uma oficina de Yoga direcionada a idosos. Juntamente com um restaurante natural. Nesta época não se falava de idosos, eram simplesmente velhos! ... velhas!
Refaz, em uma jornada a partir do final dos anos 1970, uma longa luta contra o preconceito vivenciado pelos idosos e idosas, a favor da terceira idade. É quando funda o Grupo Convivência. E o faz congregando idosas que viviam na periferia da cidade. Eu, que cresci vendo-a trabalhando com a infância abandonada - quantas vezes ela nos levava até aos orfanatos para brincar com os meninos neles recolhidos? quantas vezes fomos até a periferia levando presentes, cestas básicas, material de construção, para famílias que viviam na extrema pobreza? - desde longe a via ingressando em outra frente, levantando outras bandeiras, agora contra o preconceito e a exclusão dos idosos, uma luta pelo seu reconhecimento iniciada ainda no final dos anos 1970. Ela nos surpreendeu chamando a todos e todas para o cuidado com a saúde, com a alimentação, com a necessidade de se preparar para este momento precioso da vida.
Antecipando às políticas que
hoje estão consagradas, deu muitas palestras, recebeu muitas visitas,
participou de audiências em Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, no
Congresso Nacional. Foi à Espanha, Itália, Roma. Conheceu Chiara Lubich, de
quem ficou amiga, apoiou a vinda do Focolares à Minas Gerais, à Sete Lagoas.
Sei que esteve com o Papa e foi abraçada pelo Lula quando da promulgação do
Estatuto do Idoso. O ministro Patrus Ananias era considerado, por ela, seu
filho. Fez muitos milagres em vida, por isso, surpreendentemente não queria
simplesmente partir.
Assim, sua vida foi se
tornando para todos nós uma missão que pouco compreendíamos. Com sua natureza
humana, suas implicâncias, seu orgulho e também sua humildade, quantas lições
não tivemos com ela? Quantas vezes ela nos surpreendia ao ler a nossa alma, ao
dizer o que precisávamos ouvir? E ela sempre dizia: era a voz do Espírito Santo.
Eram milagres que fazia em vida. Sua amizade não tinha fronteiras. Recebia quem
batesse à porta. Nós filhos, filhas, netos, netas, genros, noras, depois
bisnetos, bisnetas, tataranetas e tataranetos, primos, primas, tios e tias fomos privilegiados, pois para
ela a família era tudo. Família no sentido ampliado, pois sua família foi muito
maior que todos nós. Muito maior. As lembranças desta maioridade são muitas,
muitas. Amigos e amigas que adentraram na família, comungando de seus projetos,
de seus ideais. Tantos? Cito um em nome todos outros: o José Raimundo,
implantando o moderno Restaurante Vida Saudável; cito uma, em nome
de tantas outras: Lani, que junto com Oli, seu marido, e com suas filhas, a acolheu como mãe, como avó.
E tantos outros que para nós pode até se perderem no anonimato mas, para ela
não, estão sempre presente. Uma gratidão imensa a todos!
Muitas foram as vezes em que,
com o carro cheio, até mesmo em ônibus fretado, com agricultoras e agricultores,
indo a Belo Horizonte ou de lá retornando (em lutas por direitos), ao passar por aqui já tarde da noite, nos recebia a todos, com lanches, com
pousadas, com palavras de carinho e de apoio, em sua casa sempre aberta? Assim, de repente, em Porteirinha, na Tapera,
em Brejo dos Crioulos, eu recebia abraços, lembranças, presentes, que eram
direcionados à senhora minha mãe.
O sono não vem. Enquanto isso sei que D. Dochinha está debatendo com os anjos se vai partir ou não. Não sabemos por quanto tempo este debate vai durar. Não sabemos. Com certeza ela vai confabular com o SENHOR, com a SENHORA, o momento de sua transmutação. Vai confabular com o Sr. Geraldo, com o Gegê, que a esperam. A hora da partida, só mesmo o SENHOR vai com ela acordar. Por isso, a surpresa, pois os milagres em vida foram muitos. Em vida como santa, ela construía os céus aqui na terra. Chamava de parosia, palavra que nunca tinha ouvido falar até então.
Estamos com ela no Hospital Nossa Senhora das Graças. Sendo atendida com um carinho imenso por médicos, médicas, enfermeiras, enfermeiros, atendentes, fisioterapeutas. Sua aura de Santa em Vida contagia a todos que a ela se dirigem. Daqui, desde este quarto, vamos orando. Sabemos que as orações estão ecoando de todos os cantos, dos seus muitos amigos. Desde o sertão de onde nasceu, atravessando continentes, chegando aos céus, esperando os resultados de sua confabulação com o SENHOR.
O sono não vem. Enquanto isso sei que D. Dochinha está debatendo com os anjos se vai partir ou não. Não sabemos por quanto tempo este debate vai durar. Não sabemos. Com certeza ela vai confabular com o SENHOR, com a SENHORA, o momento de sua transmutação. Vai confabular com o Sr. Geraldo, com o Gegê, que a esperam. A hora da partida, só mesmo o SENHOR vai com ela acordar. Por isso, a surpresa, pois os milagres em vida foram muitos. Em vida como santa, ela construía os céus aqui na terra. Chamava de parosia, palavra que nunca tinha ouvido falar até então.
Estamos com ela no Hospital Nossa Senhora das Graças. Sendo atendida com um carinho imenso por médicos, médicas, enfermeiras, enfermeiros, atendentes, fisioterapeutas. Sua aura de Santa em Vida contagia a todos que a ela se dirigem. Daqui, desde este quarto, vamos orando. Sabemos que as orações estão ecoando de todos os cantos, dos seus muitos amigos. Desde o sertão de onde nasceu, atravessando continentes, chegando aos céus, esperando os resultados de sua confabulação com o SENHOR.
Dona Dochinha, como te
amamos!!! O quanto te amamos!!! Esta sua família maior cada vez mais
encantada!!!
Sete
Lagoas, às duas e quatro da manhã do dia 28 de março de 2014.
Muitos foram os momentos que ela nos alegrou.
Foi com alegria que Montes Claros a recebeu quando fez 96 anos!
9 comentários:
Tio Carlinhos,
Fiquei emocionado com suas palavras e como neto mais velho vivenciei alguns momentos citados. Se realmente ela se for, será uma perda irreparável mas tenho certeza que Virara uma estrelinha e por onde estivermos iluminara nossos caminhos.
(Tarcisio Dayrell Neiva)
Sou mais uma dos que conhecem o AMOR de Dona Dochinha pelos frutos da boa árvore!...
Prima por afinidade de uma de suas filhas, Ondina, casada com meu primo Flavio, reconheço a Alegria de seu viver que contagia essa ampliada família aqui citada por Carlinhos.
Também pelo Movimento dos Focolares, somo mais a essa família, já que ele nos une na paixão de Chiara Lubich por um Mundo Novo, onde, antes de tudo, se viva o mútuo e contínuo AMOR!
Obrigada, Carlos, por se sentar aos pés de Jesus, e apreciar esta confabulação! Estou junto! Abração!
Sou mais uma dos que conhecem o AMOR de Dona Dochinha pelos frutos da boa árvore!...
Prima por afinidade de uma de suas filhas, Ondina, casada com meu primo Flavio, reconheço a Alegria de seu viver que contagia essa ampliada família aqui citada por Carlinhos.
Também pelo Movimento dos Focolares, somo mais a essa família, já que ele nos une na paixão de Chiara Lubich por um Mundo Novo, onde, antes de tudo, se viva o mútuo e contínuo AMOR!
Obrigada, Carlos, por se sentar aos pés de Jesus, e apreciar esta confabulação! Estou junto! Abração!
Sou mais uma dos que conhecem o AMOR de Dona Dochinha pelos frutos da boa árvore!...
Prima por afinidade de uma de suas filhas, Ondina, casada com meu primo Flavio, reconheço a Alegria de seu viver que contagia essa ampliada família aqui citada por Carlinhos.
Também pelo Movimento dos Focolares, somo mais a essa família, já que ele nos une na paixão de Chiara Lubich por um Mundo Novo, onde, antes de tudo, se viva o mútuo e contínuo AMOR!
Obrigada, Carlos, por se sentar aos pés de Jesus, e apreciar esta confabulação! Estou junto! Abração!
Como eu adorava tia dochinha, uma mulher amável, carinhosa, tranquila e generosa.... Fico feliz por ter conhecido uma pessoa tão boa ^_^
muito legal, emocionante vocês.
Linda a vida de sua mãe, Carlos e Juarez (meu amigo). A tristeza da perda deve ser recompensada pela certeza de tê-la sempre presente em seu corações. Meus sentimentos à essa enorme família. Antônio Henrique
Hoje estava olhando umas fotos... De repente me vi abraçado com Tia Dochinha. No momento estava com um amigo com quem fiz um comentário sobre o anjo com quem abraçava. Então entrei na internet e vi a noticia que Deus a havia chamado...
Percebi que na vida nos prepara, ou melhor, quer que nos preparemos... E a forma de percebermos como devemos nos preparar!? É a forma como Tia Dochinha nos ensinou todo esse tempo... Com Deus no coração e com ATITUDES, como ela fez durante toda sua vida aqui...
Que lindo tio Carlinhos! Muito sentimentos arraigados nas suas palavras <3 Saudades eternas Vozinha querida! Te amamos
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