quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A democracia como a conhecíamos, virou coisa do passado. Mas, nem tudo está perdido



A reta final do primeiro turno das eleições no Brasil mostrou que a democracia resta como coisa do passado. Pelo menos da forma como a concebíamos. Se antes, estávamos a mercê do poder que financiava os candidatos e os partidos, da inteligência fina que guiavam os discursos, o marketing e a articulação dos bastidores, com regras desenvolvidas para controle do financiamento da campanha, do uso do tempo na tevê, da propaganda de rua, cartazes, murais, carros sons, boca de urna, as estratégias atuais deixaram estas práticas e temas em uma fragrante obsolescência.


As campanhas ficaram muito mais complexas e as formas de indução do cidadão muito mais sofisticadas. A individualização da campanha vai chegando a extremos nunca imaginados. E é sob o manto da individualização que o arsenal tecnológico e financeiro constrói os caminhos que os cidadãos vão trilhar, acionando o poder da mídia, do judiciário, dos empresários, dos pastores ou das igrejas. 

Ações orquestradas e descentralizadas, utilizando profissionais de marketing associados com militantes e robôs digitais são capazes de, com nos informa Plínio Teodoro (https://www.revistaforum.com.br/como-funcionam-os-grupos-de-whatsapp-de-apoio-a-bolsonaro/), em poucas horas, desencadear uma guerra relâmpago transformando os louros de manifestações massivas de rua, como a que vimos no último final de semana em favor do “#EleNão, em rápidas mudança de opinião de milhares ou mesmo de milhões de cidadãos e cidadãs menos desavisadas acerca da guerra digital em curso.


Guerra digital que está acoplada nos algoritmos que definem o que você vai ver ou ler, enquanto é absorvido no seu caminhar para casa ou para o trabalho, na escola, nas ruas, nos ônibus, metrôs, salas de aula, barzinhos, reuniões de trabalho, nas roças e até mesmo nos passeios ao ar livre. Pois é assim hoje, as pessoas cabisbaixas e conectadas, porém, sem saber que estão sendo plugadas ao abismo do totalitarismo, do liberalismo ao extremo que nenhum interesse tem nos valores que, até então, guiaram nossa crença na democracia.


Mas, a democracia não está perdida, pois os confrontos dos processos eleitorais explicitam também os conflitos de interesses e de classes, exigindo uma atualização da humanidade que habita em todos nós, habitantes que somos deste mundo que clama vida para todos. E é esta resistência presente em nossa humanidade que põe de forma inusitada a sociedade a se movimentar como a que estamos vendo aqui no Norte de Minas, no Semiárido Mineiro, no estado de Minas Gerais.

E, entre estas movimentações, a ousadia que foi o lançamento de Leninha como candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Oriunda da periferia, mulher negra, há muitos anos ela vem trabalhando com as comunidades rurais no Norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha e em toda Minas Gerais e no Brasil a partir de sua atuação em redes sociais como a Rede de Convivência com o Semiárido, Articulação Mineira de Agroecologia, Conselho Estadual e Nacional de Segurança Alimentar. Mesmo sem nunca ter entrado na política diretamente, sempre esteve  batalhando por mudanças na sociedade, em particular, na busca de um mundo e de uma sociedade ecologicamente sustentável, com os direitos das pessoas sendo reconhecidos e respeitados,  uma luta imensa para diminuir as desigualdades sociais e econômicas que se mantêm incrustadas em nosso meio.

Há dois anos solicitaram para ela compor uma chapa como vice-prefeita para a prefeitura de Montes Claros. Aceitou muito relutante, teve que ser animada para aceitar e, por uma conjuntura local, a menos de um mês das eleições, ela passou a ser candidata a prefeita. Um grande círculo de pessoas foi criado, ela teve em Montes Claros uma votação expressiva, quase 40 mil votos. Votação que nos surpreendeu a todos, principalmente pelo abrangente clima positivo que se criou em torno do projeto que ela defendia.

Este processo que aconteceu em Montes Claros contribuiu para levar para outras regiões do estado, para outras comunidades, este projeto como substância para uma possível candidatura como deputada estadual. Um círculo maior de pessoas entrou na construção deste projeto que, agora, estamos defendendo: a luta pela humanidade socioambiental que hoje nos faz mover para um mundo possível de se viver.

Esta luta está mobilizando centenas e centenas de pessoas, que fazem o trabalho militante, de casa em casa, de comunidade em comunidade, de bairro em bairro, em escolas, fábricas e universidades. Que acionam redes de informação e de formação com o debate e convencimento não apenas para o voto mas, principalmente, para entrar nesta rede de mudança social.

Campanha que vem conseguindo se atualizar, mas sem perder de vista os valores que sustentam a luta pelo avanço da democracia, pela equidade socioeconômica, pelo reconhecimento da diversidade sociocultural e, principalmente, pela responsabilidade ambiental ao nos reconhecermos parte da complexa dinâmica que sustenta a vida no planeta. E dela todos também devemos cuidar.




Para saber mais sobre ela, acessem:

https://www.youtube.com/watch?v=ePvoJ-vCGwM

https://www.youtube.com/watch?v=5FQ5eMbV1Cc


Um comentário:

João Batista de Almeida Costa disse...

Como não podia deixar de ser tua lucidez nos ilumina!