segunda-feira, 31 de maio de 2010

GERAIZEIROS REALIZAM ROMARIA RUMO AO AREIÃO





Representantes do Movimento Pequizeirão promovem, nesta quinta-feira, (03), a Romaria Rumo ao Areião cujo propósito é criar duas Reservas Extrativistas Geraizeiras (Resex) no Norte do Estado de Minas Gerais: Resex Areião / Vale do Guará, nos Municípios de Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo; e Resex Tamanduá, em Riacho dos Machados. A área total a ser manejada e preservada por estas duas RESEX é de 47 e 35 mil hectares respectivamente (ou seja, 82 mil ha de cerrados).


Para Carlos Dayrell do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA/NM), umas das instituições participantes do processo de mobilização na região, a proposta de criação é uma demanda das comunidades geraizeiras e visa garantir a proteção e o uso de alguns dos últimos remanescentes de cerrados que ainda continuam relativamente preservados. "O CAA assessora as comunidades geraizeiras do Alto Rio Pardo na retomada e proteção de seus territórios tradicionais que foram e continuam sendo extremamente impactados pela monocultura do eucalipto" -, diz Dayrell.


Eliseu José de Oliveira, Coordenador do Movimento Articulado dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais do Alto Rio Pardo (Mastro), argumenta que a Romaria surgiu como uma forma de celebrar a importância da área para as comunidades que ali vivem. E também como uma forma de ampliar a mobilização e a sensibilização da sociedade sobre a importância da proteção da área.


Durante todo o dia estão previstas inúmeras atividades. A concentração será às 8h, na Comunidade de Água Boa II em Rio Pardo de Minas; às 10h, o lançamento da Pedra Fundamental do Santuário São Francisco da Reservas Extrativistas (Resex) do Areião e Vale do Guará, seguida de homenagem ao ex-funcionário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Julio Cesar Duarte, que foi um dos responsáveis pelos estudos técnicos promovidas na região e faleceu em 2007; às 14h, será desenvolvida Mesa Redonda com integrantes do Movimento do Pequizeirão, dos Executivos Municipais envolvidos, da Promotoria de Justiça de Defesa do Rio São Francisco / Sub-bacia do Rio Verde Grande, da Embrapa Cerrados, da UFMG, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Ibama, Instituto Estadual de Florestas (IEF), Mastro, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede Cerrado - Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. No encerramento, às 16h, será celebrada Missa. O ICMBIO já realizou levantamento parcial das famílias do entorno e o levantamento fundiário está em desenvolvimento. O percurso é de 12 quilômetros ao todo.



Uma das precursoras de todo o processo é a agricultora e extrativista Lúcia de Água Boa. Há informações de que a militante pela criação da área de preservação quase desistiu da luta. Mas sua crença a ajudou a prosseguir. Num dia de grande revolta pelas dificuldades encontradas, ela abriu a bíblia e leu "Ao lado do território de Judá, ficará a terra separada para uso especial. De Norte a Sul, terá doze quilômetros e meio de largura e de Leste a Oeste terá o mesmo comprimento dos territórios dados às tribos. O Templo ficará nessa área. Ezequiel 48 - 8". A partir de então, a luta foi reiniciada e hoje são desenvolvidas inúmeras atividades cujo foco principal é a criação das RESEX. Atualmente, várias mobilizações estão em curso pela criação das
Reservas.


RESEX - São áreas destinadas à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por população extrativista. As RESEX fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e são regulamentadas pelo LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000.

Para que são criadas?



  • Garantir a terra às famílias que ali moram;


  • Permitir que as famílias continuem vivendo das atividades econômicas que tradicionalmente executam;


  • Conservar os recursos naturais mediante a sua exploração sustentável, isto é, permitindo que os mesmos continuem disponíveis para as futuras gerações;


  • Organizar os moradores e capacitá-los para que, mediante o fortalecimento do associativismo, administrem a área, obedecendo a um Plano de Utilização feito por eles mesmos e aprovado pelo ICMBio;


  • Implantar alternativas de renda que contribuam para a melhoria das condições de vida
    das famílias.

HELEN SANTA ROSA, DELIO PINHEIRO, ANDREA FROES - Assessoria de Comunicação Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA/NM)
Rua Anhanguera, 681, Cândida Câmara Montes Claros - MG 39400-000


Telefone: 38-3218-7700

sábado, 22 de maio de 2010

PIQUIZEIROS NA BOCA DO FORNO


Bem que poderia ser um quitute temperado com pequi e pronto para entrar no forno de um fogão a lenha. Mas não. A cobiça sobre os últimos remanescentes de cerrado e a omissão dos órgãos ambientais que se fazem moucos para o grito "silencioso" de centenas de comunidades tradicionais do Norte de Minas, coloca os cerrados como um bioma em estado terminal.

Sandro Gallazzi, na plenária final do III Congresso Nacional da CPT que foi realizado em Montes Claros, MG, convoca a todos nós a escutar o que nos dizem estas comunidades que, no Brasil inteiro, clamam para serem ouvidas.

Esta foto acima tem endereço certo: Desmatamento de cerrado localizado nas proximidades da barra do Córrego Zé Pretinho com o Ribeirão, de coordenadas Latitude 15°11'26.07"S; Longitude 42°22'18.52"O. São piquizeiros que foram abatidos, cortados e estão sendo queimados em fornos de carvão na região da Inveja / Ironbras no município de Montezuma, norte de Minas Gerais. É só ir lá para ver!

Faz parte de uma representação junto à Promotoria do São Francisco no sentido de coibir esta sanha sem limites que se instala nos sertões do Norte de Minas Gerais.

Faz parte de uma movimentação dos geraizeiros do Alto Rio Pardo que lutam contra o desmatamento dos cerrados e pela implantação de duas RESEX na região – Areião / Vale do Guará e Tamanduá.

RESEXs que podem proteger, com o povo dentro, uma pequena parcela dos remanescentes de cerrados, território cobiçado pelo complexo florestal siderúrgico que tem suas sedes arranjadas em grandes monopólios que dominam o comércio no mundo globalizado: Brasil, Canadá, EUA, Europa, Japão, China ...

É uma luta desigual!

Não é à toa que o IEF e a polícia florestal do Governo de Minas andam a passos lentos, imobilizados.

Não é à toa a omissão do ICMBio, órgão do Governo Federal, ao não criar as RESEX antes que suas áreas sejam totalmente descaracterizadas. RESEX que foram propostas há mais de cinco anos atrás.

As comunidades vivem receosas. Sabem que podem ser perseguidas se protestarem. As lideranças andam receosas. Sabem do risco que correm ao denunciar interesses poderosos como um que foi feito muito recentemente contra um empresário de Belo Horizonte que vem tentando grilar terras usando laranjas para receberem títulos legitimados pelo ITER. Não é só ele não. Tem muitos outros usando do mesmo ardil.

Então, os últimos piquizeiros passam a arder na boca dos fornos de carvão.


Ardem também em nossos olhos!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

ROMARIA RUMO AO AREIÃO



À pedido das Comunidades Geraizeiras de Montezuma, Rio Pardo de Minas e de Vargem Grande do Rio Pardo, da Comissão Regional de Povos e Comunidades Tradicionais e da REDE CERRADO estamos convidando a virem participar da ROMARIA RUMO AO AREIÃO a ser realizada no dia 03 de junho de 2010 na comunidade de Água Boa II, município de Rio Pardo de Minas.

Neste dia realizaremos uma celebração no Areião com o lançcamento da pedra fundamental do Santuário São Francisco e uma Mesa de Debate sobre o processo de criação da RESEX AREIÃO VALE DO GUARÁ. Na qual gostaríamos de contar com a sua participação.

Veja a programação:

08:30 horas – SUBIDA AO AREIÃO
10:30 horas LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DO SANTUÁRIO SÃO FRANCISCO DA RESEX AREIÃO / VALE DO GUARÁ
HOMENAGEM A JULIO CESAR DUARTE
CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA
11:30 horas RETORNO À COMUNIDADE
12:30 horas REFEIÇÃO COMUNITÁRIA

14:00 horas MESA DE DEBATE:
Criação da Resex Areião Vale do Guará
Representantes comunitários do Movimento Piquizerão - Embrapa Cerrado – UFMG - ICMBIO – DF - IBAMA MG – IEF - Promotoria do São Francisco – MASTRO – CPT – Prefeitos de Montezuma, Rio Pardo e Vargem Grande - REDE CERRADO / Comissão nacional de povos e comunidades tradicionais
16:00 horas MISSA E ENCERRAMENTO

sexta-feira, 7 de maio de 2010

E VENTO O VERDE

E Vento o Verde
o verde se esvai, e vai para sempre,
e nós aqui, como se nada estivesse acontecendo
a televisão e suas novelas,
a crise econômica, a guerra no oriente médio
hoje bombardearam a Faixa de Gaza
assassinaram 270 palestinos
em reação, atingiram um israelense
números com que a imprensa se farta
e meu filho brincando de pique, de pega
com a meninada na rua
a maria clara e sua química
luana, agronomia
jussara, biologia
luciano, cinema
todos com sua história
a história deles está começando,
como a minha, não sei mais
pois o verde está indo
nas ventanias de um mundo que dá apenas mostra do descontrole
o toque já foi dado
não se tem mais volta
então nossa história perde sentido
e, sem sentido, fico vendo meu filho brincar de pique,
de pega, na noite escura
onde as estrelas ainda brilham nos céus
mera ilusão, aqui, ou no tibete, em madagascar
são luiz do maranhão, kassel ou em rodeadouro
embora a meninada ainda brinque
embora os shopings iluminados dia e noite
um mundo sem estrelas, sem luas, orvalhos
cujo coração é o sobe e desce da bolsa de valores
quantos financistas, oh, quantos de nós subordinados à esta veia
insidiosa gangrena tecendo seus tentáculos virtuais
hoje se dispersa a matéria, o real
a terra perde os sacramentos
o sertão transparece nos desertos verdejantes
esvai-se nos braços de riobaldo
o verde toma corpo
o verde venta
todos nós, somos todos um
mesmo que um fosso abissal nos separe
somos todos um,
somos todos um . . .

(Montes Claros, janeiro de 2009)