sábado, 1 de novembro de 2008

Agricultura de alta tecnologia x agroecologia? Onde está a contradição?

A chamada agricultura de alta tecnologia consegue hoje chamar a atenção, na verdade causar um grande encantamento na sociedade midiática, que a enaltece como o supra sumo do desenvolvimento científico. O que vemos, na verdade, é um setor de negócios da sociedade se assenhorar da ciência como se ciência só fosse a sua capacidade de desenvolver insumos para viabilizar o desenvolvimento da agricultura. O que acontece é que este setor que se auto denomina de alta tecnologia – deveria denominarmos de fato – de altos e caríssimos insumos –não deixa de ser também um atraso da ciência. O grande esforço científico que temos pela frente é compreendemos mais a natureza, seus mecanismos de funcionamento em geral, e, em particular, compreendermos mais a biodiversidade, os seus complexos mecanismos de alto regulação ecossistêmicos nos campos de cultivo. O desafio é o de trazemos, aproximarmos mais a ecologia para a agricultura e vice versa, potenciarlizarmos os aspectos funcionais da biodiversidade e dos ecossistemas. Este é um conjunto de ações que a agroecologia tem como demanda, então sim poderíamos denominar de alta tecnologia.
Então o que nós vemos é um setor de negócios da sociedade se apoderar de recursos públicos, promovendo o desvio de recursos públicos da ciência para os seus interesses, para desenvolver o que lhes interessa, e de outras formas, impedir o devido desenvolvimento da ciência que vai contra esta acumulação insensata de capital nas mãos de poucos.
A agricultura de altos insumos é um diploma de nossa incapacidade de compreendermos a natureza, os processos ecológicos, e de promover o desenvolvimento da agricultura a partir de uma melhor articulação com a natureza e com os seus potenciais ecossistêmicos.
A agricultura de altos insumos brecou este processo principalmente a partir do século XIX, onde o desenvolvimento do conhecimento científico associado à química, à genética, aos motores de combustão foi rapidamente direcionado para atender aos interesses de um setor da sociedade, o que levou ao desenvolvimento de insumos e máquinas que se tornaram objeto de negócios, de lucro. O pior que aconteceu nesta sua capacidade de articular recursos financeiros e humanos, foi o de brecar o desenvolvimento em outra linha de pesquisas que vinha se desenvolvendo e que estava associada às bases do que posteriormente veio se denominar de agroecologia.
Um exemplo: quando um inseto se torna praga em um campo de lavoura, isto acontece devido a uma perturbação ecológica que propiciou um aumento desmedido e momentâneo de sua população. Temos então pela frente, um grande desafio de compreender os mecanismos que provocaram esta perturbação e de desenvolver uma tecnologia ou uma técnica (ecológica, neste caso) que contribua com a natureza no reestabelecimento da homeostase, no restabelecimento de re-equilíbrio em níveis que não comprometa a produção naquele campo de lavoura. Temos então um investimento em pesquisa que vai demandar estudos, capacidade de observação, inventividade, na verdade uma série de valores do pesquisador em interação com os agricultores e com os campos de lavoura na busca de uma solução do problema. Solução que se inicia principalmente na busca do entendimento sobre a origem do problema. Mas para onde nos leva a “ciência comprometida com o setor de altos insumos”? Apresenta-nos uma solução rasteira, porque a sua solução foi o desenvolvimento de um produto que simplesmente vai inviabilizar a vida daquele inseto, que vai tentar exterminar aquele inseto. É uma solução que inviabiliza a vida não apenas daquele inseto, mas de uma gama de outros insetos que está associado seja diretamente em sua cadeia alimentar, seja de uma maneira generalizada com todos os insetos daquele campo de cultura. Ou seja, a intervenção técnica proposta provocou um maior desequilíbrio, um desequilíbrio que vai aumentar cada vez mais, necessitando sempre e mais produtos e produtos. Ou seja, se torna assim um bom negócio, porque sempre vamos ter os agricultores necessitando de comprar este produto. Isto sim, este setor da ciência pode muito bem ser denominado "baixa tecnologia", um atestado da nossa incompetência.

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